domingo, 5 de dezembro de 2010

UMA FÃ SONHADORA!

Sempre fui apaixonada pela inteligência do Arnaldo Jabor, desde quando ele fazia comentários sobre economia no “Jornal da Globo”. Lembro-me de ter comentado com uma amiga sobre ele e ela simplesmente me disse que ele não era um homem bonito, decepcionada, eu ainda disse a ela que eu não estava levantando a lebre da beleza implantada pela mídia, mas sim, que estava falando da inteligência, da capacidade de fazer comentários consistentes, de nos fazer refletir sobre o assunto do momento na economia nacional que era o que ele me fazia, além de eu achá-lo muito charmoso, enfim, fiquei ainda absorta na imagem dele que me vinha à cabeça e me fazia suspirar.
Pois bem, caminhava eu, uma tarde, pela Avenida Paulista, um dia em que fui fazer um curso de espanhol, e me bate no rosto; pois havia um ventinho incômodo e gelado, e uma garoa típica da capital paulistana; um pequeno papel onde estava anotado um número de telefone e o nome Arnaldo Jabor.
Fiquei extasiada!
Olhei para os lados, preocupada com o fato de que o dono do papel pudesse procurá-lo e tirá-lo de minhas mãos; isso porque me abriu um leque de possibilidades de entrar em contato com aquele homem tão importante para mim. Eu o admirava, eu o idolatrava, a cada texto que Arnaldo escrevia e que eu lia, sentia uma proximidade e uma necessidade real de aproximação. Eu o via em meus pensamentos, imaginava uma conversa formal, ia até São Paulo para ver se o encontrava, e agora, estava ali, em minhas mãos a chance de ouvir ao pé do ouvido a voz do Rei dos meus textos preferidos, sim porque para mim ele era um verdadeiro Deus das escrituras.
Terminado o curso e vencida minha ansiedade de falar com ele, me vi de volta a casa no final da noite. Correria, metrô, ônibus para minha cidade e muito cansaço, são todos os passos que envolvem um curso de aperfeiçoamento de espanhol em São Paulo, e uma alegria no fundo da alma. “Amanhã eu ligo para ele, estarei mais descansada e então ligo” pensei.
Cheguei a cochilar no ônibus e sonhei com nossa conversa, eu ligava e ele, do outro lado, com todo aquele charme e a voz com aquele som característico, me dizia um alô denso, bem pronunciado, ai eu voltava a ligar e ele me respondia da mesma maneira, e repeti a mesma atitude durante toda a viagem, ou seja, durante todo o sonho. Foi quando acordei na rodoviária, me levantei, fui ao estacionamento, peguei o carro e fui para casa.
Em casa, tomei um banho, comi algo e me deitei, sonhei de novo. Um sonho misturado, o professor falava em espanhol que o Arnaldo Jabor ia até o curso para falar de um tema da economia que tinha estourado em Brasília. Eu, no sonho, me sentia tão empolgada que não cabia em mim, era felicidade demais para uma admiradora fervorosa. Fiquei ansiosa para o momento de sua fala, e enquanto esperava, aproveitei e me arrumei, coloquei batom, penteei meus cabelos, até aproveitei uma amostra de perfume, ganhada em alguma perfumaria e o esperei por longo tempo, até que chegou o professor e anunciou, em espanhol, que o Arnaldo Jabor tinha recebido uma ligação do editor-chefe do Jornal da Globo e precisou ir embora.
Fiquei tão decepcionada que acordei cansada e triste, me lembrei do papel, corri até minha bolsa, onde eu o tinha colocado em segurança. A minha alegria tinha retornado, eu tinha as mãos frias e meu coração saltava pela boca.
Quando o papel veio ao meu rosto, eu estava pensando em como estava cansada, no que precisava fazer para descansar, e como gostaria de estar na praia, ai o papel me chegou, em meio a um turbilhão de pensamentos.
Então peguei o papel da bolsa e o li, um susto aterrorizante me tomou todo o corpo, li novamente o papel, reli, tornei a relê-lo e me sentei, até com falta de ar fiquei. No papel, estava escrito Arnaldo Jaraguá...
Em meio ao cansaço, a vontade de estar em casa, na cama, dormindo, acabei lendo errado. E o meu sonho de entrar em contato com meu escritor preferido se esvaiu, sobrou só a sensação dos sonhos, aposto que eles eram, já, uma indicação de que eu não ia vê-lo mesmo, pois em instante algum, no sonho, eu conseguia chegar até ele.